A maracanã-verdadeira está classificada pela IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza) como "Quase Ameaçada de Extinção", categoria que engloba espécies com iminente risco de entrar em processo de extinção. Distribuída por quase todo território brasileiro, sua maior população está concentrada nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, ficando ausente do Rio Grande do Sul, Amazonas, Goiás e oeste de Minas Gerais, sendo o arraial de Desemboque, provavelmente o limite mais à oeste de sua área de ocorrência no estado de Minas Gerais. No entanto, nos últimos anos a abundância e a distribuição da espécie vem diminuído rapidamente, o que tem sido atribuído principalmente à perda de habitat, como indicam os pesquisadores ingleses Tony Juniper e Mike Parr.
Começamos a acompanhar a espécie em 2012, quando registramos a presença de um casal residindo no arraial de Desemboque, onde utilizava regularmente o telhado da Igreja de Nossa Senhora do Desterro para nidificar e pernoitar. Desde então não há registros da presença das maracanãs em outras localidades do município, provavelmente pela falta de locais apropriados para construção de ninhos, como ocos em árvores e palmeiras (hoje raros devido ao desmatamento) e a competição com outras aves e mamíferos que também utilizam essas cavidades, como tucanos, corujas, gambás e saguis.
A maracanã-verdadeira também tem servido de modelo para reintrodução de uma outra espécie considerada Criticamente em Perigo de extinção e possivelmente Extinta na Natureza, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), uma vez que é o animal mais similar, ecológica e biologicamente, à ararinha, possuindo hábitos semelhantes e até formando pares ou grupos com elas, como foi o caso da última ararinha-azul observada na natureza, no nordeste brasileiro em 2000.
Desemboque fez bem para as maracanãs, hoje existem pelo menos quatros casais vivendo nos arredores do arraial e utilizando a Igreja de Nossa Senhora do Desterro como dormitório. Para quem visita a localidade, tornou-se uma dádiva contemplar o lento voo sincronizado dos casais de maracanãs por sobre as igrejas e casarões centenários, ao amanhecer e no final da tarde. Esperamos que Desemboque continue oferecendo um santuário seguro para a proteção e manutenção dessa espécie.
Bibliografia:
Juniper, T.; Parr, M. Parrots: a guide to the parrots of the world. London: Pica Press, 1998.
Sick, H. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
Sigrist, T. Aves do Brasil. São Paulo: Avisbrasilis. 2008.
Silveira, F. L. The birds of Serra da Canastra National Park and adjacent areas, Minas Gerais, Brazil. Cotinga, V.10.
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*Artigo originalmente publicado na Revista Destaque In n. 95 - mar 2019.