O BALLET DAS GARÇAS
ÉPOCA DE CHUVA FAVORECE OPORTUNIDADES FOTOGRÁFICAS NA VÁRZEA DE RIOS
No auge da temporada de chuvas, lagoas temporárias atraem aves aquáticas e oferecem boas oportunidades fotográficas na região da Serra da Canastra.
Ao disputar espaço na busca por comida, as garças-brancas-grandes (Ardea alba) protagonizam um verdadeiro ballet.
Janeiro e fevereiro são meses extremamente chuvosos na região da Serra da Canastra. Especialmente nesse ano (2022), a quantidade de chuva parece ter ficado acima da média e proporcionado o aparecimento de diversos lagos temporários nas várzeas dos grandes rios que cortam a região, como o Araguari e o Grande.

Garça-branca-grande, colhereiro e cabeça-seca são alguma das aves que buscam alimento nas lagoas temporárias.
Para aproveitar a oportunidade, já que alguns lagos permanecem cheios por apenas alguns dias, visitei na última semana acompanhado do amigo Fred Crema, uma dessas lagoas que se formou em meio a uma plantação de soja, numa várzea do Rio Grande, próxima à cidade de Sacramento MG.

Um grupo de garças-brancas-grandes (Ardea alba) atentas aos movimentos na água.
Alguns desses lagos se formam quando o leito do rio sobe além do limite da calha, "derramando" água que se acumula nos pontos mais baixos, as chamadas "várzeas".

Quando o nível do rio volta a baixar, nas lagoas sobra grande diversidade de peixes e anfíbios, que se tornam presas fáceis para as aves aquáticas.

Normalmente, em situações como essa, quando há muita caça disponível, as aves ficam tão concentradas na busca por alimento que quase não se importam com a presença humana e acabam permitindo uma boa aproximação.

Esse era o ângulo de visão que tínhamos dos bichos na lagoa.
No grupo que aparece na foto haviam garças, colhereiros e cabeças-secas.
Logo ao chegar à lagoa, percebemos uma grande movimentação de garças e outras aves aquáticas. A esperança era encontrar algum tuiuiú (Jabiru mycteria) - já que na região costumam frequentar lagos desse tipo a essa época do ano - mas dessa vez não apareceram.

Nos posicionamos próximos à margem, a uma distância que consideramos segura para não estressar nem afugentar as aves, tampouco atrapalhar a atividade de caça.

Atentos à movimentação, passamos a aguardar pacientemente que alguma ação se desenrolasse.

É necessário acompanhar a movimentação com atenção, pois cada segundo é decisivo para capturar cenas de ação. Foto: Fred Crema.
Não demorou para que começássemos a conseguir alguns flagrantes, como o da garça-branca-pequena (Egretta thula) com as asas abertas e o reflexo da imagem espelhado no lago.

A rasura do lago e a ausência de vento possibilitaram explorar imagens em espelho, como essa da garça-branca-pequena.
Logo em seguida, uma garça-branca-grande (Ardea alba) protagonizou cena semelhante.

Essa garça diferencia-se da anterior pelo porte maior (cerca de 1 m, ante 60 cm da garça-branca-pequena) e por possuir bico amarelo e pernas pretas, enquanto a garça-branca-pequena apresenta bico preto e pernas amarelas.
Garça-branca-grande em mais uma imagem com efeito de espelho.
Em um ponto isolado do lago, longe da presença das garças-brancas-grandes e dos cabeças-secas, um grupo de garças-brancas-pequenas caçava lambaris na rasura da água.
Para capturar cenas como essa, em que a água aparece "congelada" na imagem, usamos altas velocidades de obturador, essa foto por exemplo foi feita com 1/2500 segundos.
De repente, uma família de colhereiros (Platalea ajaja) sobrevoou a área e logo desceu para se alimentar junto ao grupo.
A presença dos colhereiros veio dar um colorido especial aos tons monocromáticos das garças e cabeças-secas.
Essas aves chamam a atenção pelo colorido exuberante e pelo curioso formato do bico em forma de colher, que usam para filtrar o barro no fundo do lago, em busca de comida como pequenos peixes, anfíbios, insetos e minhocas.
Dois colhereiros adultos e um jovem, este, à esquerda da foto, apresenta um tom róseo menos intenso.
Perfilados, os colhereiros ocuparam-se com a busca de alimento e acabaram permitindo uma série de fotos, inclusive explorando o recurso de espelhamento na água.
Um casal de marrecos irerê passou voando baixo e à favor da luz. Oportunidade para uma boa foto!
Vez ou outra marrecos como o irerê (Dendrocygna viduata) cruzavam céu. Com sua vocalização característica, voavam cada vez mais baixo, para terminar pousando do outro lado do lago, escondendo-se rapidamente entre a vegetação.
Os cabeças-secas são enormes cegonhas, típicas do Pantanal, que visitam a região da Canastra na época de cheia.
Com ar circunspecto, um grupo de cabeças-secas (Mycteria americana) observava tudo, já fartos do abundante alimento ali disponível.

O cabeça-seca é uma enorme espécie de cegonha, chegando a medir mais de um metro de comprimento e quase dois metros de envergadura.

Muito comum no Pantanal, se torna abundante na região de Sacramento, especialmente durante a cheia do Rio Grande, entre janeiro e fevereiro.

Finalizamos com um pequeno vídeo que mostra a diferença de comportamento de caça entre as garças-brancas-grandes e os cabeças-secas.

Enquanto as garças estão sempre atentas à movimentação na água, à procura de pequenos peixes, os cabeças-secas filtram constantemente o barro no fundo do lago em busca de anfíbios, minhocas e insetos.

Foi sem dúvida uma memorável aventura fotográfica que nos proporcionou registros inesquecíveis.
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